segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O que vale mais nas questões da etnia: a opinião de um Romani ou de um Gadjo?

 

Desde a época de “Explode Coração”, escrita por Glória Perez, que foi ao ar em 1995/1996 uma novela fictícia inspirada em partes da cultura cigana (o que não retrata em sua totalidade o que é a cultura em si) que evidencia a existência da etnia no país de forma a se popularizar. Lembramos que os ciganos estão aqui no Brasil desde a época da colonização participando ativamente da construção do país, onde são totalmente ignorados em nossos livros de história, como nos livros didáticos.
O fenômeno novelístico fez com que muitos gadjes (não-cigano) se passassem por ciganos perpetuando até os dias de hoje, outros se apropriam culturalmente trazendo de uma maneira desagradável uma distorção da real cultura cigana, onde muitos dizem não serem ciganos, mas expõe suas fantasias e estereotipadas sobre a Cultura Romá.
Um artigo sobre a falsa identidade cigana no Brasil foi publicado em 2012, na revista francesa Études Tsigane, vale a pena conferir: https://cepecro.blogspot.com/2018/07/falsa-identidade-cigana-um-caso_27.html
Vamos recordar um episódio sobre um ritmo inexistente dentro da cultura cigana brasileira chamado “Rumba Brasileira”. Na época desse acontecimento o Romanichal Antonio Guerreiro (in memoriam), Doutor em Música especialista em etnomusicologia, foi membro ativo do CEC (Centro de Estudos Ciganos, o primeiro centro de pesquisa da América Latina voltado para a etnia) fez uma explicação sobre os estilos musicais da cultura cigana brasileira, onde ele e outros ciganos brasileiros, não reconheceram esse estilo como pertencente à sua cultura. Porém leigos deram mais valor a opinião de uma professora de dança cigana, onde sua afirmação sobre a “Rumba Brasileira” não é reconhecida por nenhum dos grupos ciganos no Brasil.
Seguindo essa linha artística, gadjes que não conhecem e os que desrespeitam a Cultura Cigana no país já criaram um novo estilo como o supracitado (Rumba Brasileira) caindo na mesma linha de pensamento onde da mesma forma, nenhum dos grupos ciganos brasileiros reconhece tais novidades como pertencente à sua cultura.
Mas o quê de fato há de dança cigana nisso? Qualquer gênero de dança pode estilizar as diversas matrizes étnicas; o que não representa as típicas danças de cada grupo. Precisamos lembrar que os grupos ciganos do Brasil não reconhecem os gêneros citados como pertencentes a sua cultura?
Se um Cigano diz “o que você está dançando não tem a ver com minha cultura”, a resposta prontamente tem sido “mas é artístico!". Será que toda a dança estilizada ou inspirada em qualquer matriz étnica precisa levar o aposto “artístico” para se desvencilhar da responsabilidade cultural do povo mencionado? Neste caso é o mesmo que chamar “dança africana artística", “dança havaiana artística", “samba artístico", “forró artístico", o que em nenhum lugar do mundo é utilizado.
Por quantas vezes os membros da etnia cigana têm suas falas apagadas por conta de gadjes que não conhecem, de fato 1% do que é Ser Cigano em um país que a legislação ainda trabalha para atender aos grupos pertencentes às minorias étnicas, exemplo: quando cotas da parte cultural destinadas a este grupo são desafiadas por membros não pertencentes, tirando desta minoria o pouco que lhe é concedido por direito.
Quem pode orientar e opinar melhor sobre a cultura cigana: o tutor da sua cultura que é vivo e atuante ou alguém de fora?



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