Neste último dia do mês
de junho de 2018, deu-se a palestra intitulada Todos os caminhos levam aos ciganos no Estúdio Denise Tenório, no
bairro carioca de Santa Teresa, às 17hs.
A escritora Cristina da Costa Pereira ao lado do Calon Marcos Rodrigues e do pesquisador Ricardo Samel |
O evento teve início com
a escritora e professora de literatura Cristina da Costa Pereira que tem,
dentre seus 13 livros publicados, 7 dedicados a etnia cigana. Ela renomeou o
evento com o título Linha do Tempo no
intuito de mostrar os fatos mais relevantes desde as inspirações e fundação do
primeiro órgão da América Latina a tratar de assuntos ciganos nascido nos idos
anos 80 até a atualidade. Cristina citou a criação do CEC (Centro de Estudos
Ciganos) como um exemplo inspirado no órgão de mesmo nome com sede em Paris e
que seu amigo, o ciganólogo Ático Vilas-Boas da Mota, trouxe os moldes e a
forma do estatuto para então fundar uma sede no Brasil.
Contou da formação da
diretoria no tempo de funcionamento que teve como presidente de honra o calon e
médico, dr. Osvaldo Macedo, e em outras formações mais perenes, os ciganos Mio
Vacite, Marcos Rodrigues e Antonio Guerreiro e os não ciganos ela própria e a
irmã Célia como participantes ativas durante a vigência do CEC.
Cristina falou da saída
voluntária de Mio Vacite para funda a sua União Cigana do Brasil e, a partir
daí, trouxe esclarecimentos sobre fatos ocorridos com a saída dele e discerniu
sobre confusões acontecidas. Mas também relatou tantos acontecimentos e
solicitações entre idas e vindas de casas de cultura, universidades,
consultorias para novelas, participações em programas de televisão e rádio,
colunas em jornais e revistas e tantas situações as quais os ciganos acabaram
virando centro das atenções.
De fato, ouvir verdades
sobre tantas invenções foi revelador para entender o que acontece nos dias de
hoje. A exemplo, em seu primeiro livro Povo
Cigano, de 1986, há um capítulo dedicado a artistas ciganos e artistas que
tiveram inspirações na cultura cigana e que, desde então, muitos começaram a
denominá-los como ciganos. E daí surge uma série de falsos ciganos de todos os
tipos e que ela mesma precisou procurar especialistas de diversos setores para
também se esclarecer. O mais relevante veio de um amigo seu, o
psicanalista Almir Ahmed, que disse, segundo os relatos dos acontecidos que fez
Cristina que “Quando as pessoas falseiam a sua identidade, revelam uma relação fraca com sua verdadeira identidade, não estão satisfeita com ela, sentem-se interiorizadas. Mas percebo que há dois comportamentos distintos nesta questão: 1º pessoas que se dizem ciganas para obter lucro material, seja na área da dança, da música, das artes da adivinhação. Eu diria que isso se diagnostica como distúrbio de caráter. 2º pessoas que se dizem ciganas não para obterem lucro material, mas o que elas acreditam ser um ganho emocional, um aumento de sua autoestima. Isso caracteriza o que a psiquiatria chama de histeria" (versão original em português)
Ela mencionou alguns
escritores que abordaram também a temática cigana como a cigana calin Sara
Edwirges Esmeralda Liechocki, mais conhecida como a cartomante d. Esmeralda,
que teve um livro apenas, mas que deu voz a seu povo.
Com isso, deu um “salto
quântico” até chegar no evento da Unirio coordenado pelo calon Eduardo
Alentejo, professor e diretor naquela Universidade, falou sobre o seminário de Cultura
e Identidade Romá na UFF de Volta Redonda e encerrou sua palestra com dois
poemas atualizadíssimos feitos pelo rom Fábio Tubbs.
Em seguida, deu-se a
palestra do calon e último presidente do CEC, Marcos Rodrigues, que, em emoção
contida, relatou parte de suas experiências, fez um desabafo pessoal com o
atual quadro instalado nos meios políticos e artísticos sobre os ciganos e
anunciou o nascimento de uma nova organização da qual ele é o vice-presidente,
a Cepecro (Centro de Pesquisas da Cultura Romá no Brasil), e deu os nomes dos
componentes da diretoria que a formam. Encerrou com um poema de própria autoria
e que está no livro Os Ciganos ainda
estão na estrada, de Cristina da Costa Pereira.
Após o depoimento do
calon Marcos Rodrigues, o artista dançarino carioca Ricardo Samel deu seu
depoimento com observações pontuais sobre suas andanças no processo de pesquisa
sobre a cultura cigana que faz desde os anos 80 e solicitou a todos os
presentes que, acima de qualquer julgamento, que refletissem sobre as atuais
posições tomadas nos caminhos que, de alguma forma, envolve a cultura cigana;
fatos estes que são contribuintes para atual distorção cultural praticada por
diversos artistas ciganos e não ciganos, por segmentos de religiões espíritas e
por pessoas que se intitulam membros da etnia e estão infiltradas no processo
eleitoreiro sempre que surgem tais momentos políticos.
Calon Marcos Rodrigues - vice presidente da Cepecro ao lado do membro Ricardo Samel. |
Após estas palestras, tivemos a ilustração com números de danças com Denise Tenório sob os cuidados de excelentes músicos e as alunas da professora de dança cigana Vivian Alves. Alguns destes músicos são amigos e que muito respeito por seus trabalhos dignos.
Para terminar, tivemos a
grata surpresa de um cigano do grupo kalderash que nos contou parte da história
de seus ancestres romenos e de como chegaram ao Brasil no início do século XX e
nos mostrou alguns artefatos produzidos com a arte secular da forja que vem
resistindo em sua família e que ele mesmo trouxe à tona muita sapiência no
manuseio da forja trazendo a oportunidade de avanços tecnológicos com os
metais. Diogo tem levado seu trabalho, fruto de 16 anos de pesquisa, a
universidades e a países estrangeiros.
Com isso, tivemos neste
dia 30 de junho, uma singular noite com temática cigana esclarecedora para
aqueles que tiveram o prazer de desfrutar tamanhos esclarecimentos que
trouxeram a luz as explicações que decorreram na atual conjuntura envolvendo os
ciganos.
Membros da Cepecro |
Foi uma honra e um grande prazer recebê-los no espaço. O Estúdio Denise Tenório, através de seu projeto Egrégora, segue em sua finalidade: gerando força pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas reúnidas em torno de um tema. Falar de ciganos é falar de respeito, considerando-os seres humanos assim como nós, guardados aspectos culturais específicos de um povo. A deturpaçāo desses aspectos foi amplamente esclarecida nesse encontro. Desejo sucesso e vida longa à Cepecro como um órgāo sério e comprometido com as reais necessidades desse povo e cultura tāo explorados.
ResponderExcluirEstive presente a este encontro, no qual tive a oportunidade de rever pessoas queridas.Aprendi muita coisa importante a respeito da cultura cigana.Aprendi a amar e a respeitar esta cultura , através da dança.Gratidão hoje e sempre.
ResponderExcluir